Adversário derrotado por Jair Bolsonaro na corrida eleitoral de 2018, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad condenou um gesto do presidente da República que, na visão do petista, seria uma alusão a movimentos neonazistas, que adotaram o copo de leite como símbolo.
A acusação, feita no Twitter, relaciona a provocação, supostamente feita durante uma live na noite dessa sexta-feira (29), às grandes repercussões de assassinatos de homens negros, um no Brasil e outro nos EUA, ambos por forças policiais.
“O menino João Pedro, baleado pelas costas; George Floyd, asfixiado. Bolsonaro tomando leitinho com Allan dos Santos para brindar supremacistas brancos. Sinto asco”, escreveu o petista.
Após a repercussão, Bolsonaro se manifestou e classificou o comentário como fake news.
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Reprodução/Facebook |
A crítica de Haddad está baseada no fato de o movimento supremacista branco norte-americano e de outras parte do mundo ter adotado o leite como um símbolo.
Desafio do leite
Durante sua live transmitida na noite desta quinta-feira (29), Bolsonaro citou o Desafio do Leite, criado pela Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), como forma de incentivar o consumo e ajudar os produtores e a economia.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, foi a primeira a dar início ao desafio, ao lado do produtor e presidente da Abraleite, Geraldo Borges. Depois, desafiou Bolsonaro, que tomou o leite ao lado do presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, e do secretário de Agricultura e Pesca, Jorge Seif Júnior.
“Eu gosto e tomo leite de vez em quando. Tomo sempre, dia sim, dia não, tá certo? E vamos ajudar o consumo de leite no Brasil. Nada de consumir refrigerante”, comentou Bolsonaro na ocasião.
‘Entendedores entenderão’
Quando as suspeições foram levantadas por opositores de Bolsonaro, sobre o ato de tomar leite, o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, e o jornalista e membro do governo, Allan dos Santos, se manifestaram.
O primeiro postou no Twitter uma foto dos atores Taís Araújo e Lázaro Ramos tomando leite, enquanto o segundo postou um vídeo, ele mesmo, bebendo um copo de leite durante uma live, logo após o desafio, e rindo, fazendo ainda o comentário de que “entendedores entenderão”. Um dos participantes da live ainda chega a citar “mensagem subliminar”.
Análise
O uso do leite como símbolo neonazista nos Estados Unidos ocorre, pelo menos, desde 2017. Começou como uma brincadeira, mas depois acabou virando de fato uso comum entre os supremacistas brancos.
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Neonazistas brindam com leite nos Estados Unidos (Foto: Reprodução/YouTube) |
Especialista em Antropologia da Informática e Professor de Antropologia da Universidade da Virgínia (EUA), David Nemer fez uma série de tuítes comentando a suposta provocação feita por Bolsonaro e aliados.
“As pessoas não tem entendido o pq que Bolsonaro tem tomado um copo de leite durante as lives dele. O que é um claro aceno e cumprimento aos grupos da extrema direita”, inicia ele, destacando que a alegada apropriação da “Alt Right (extremistas brancos americanos)” ocorreria com um atraso de, pelo menos, dois anos.
“Nacionalistas brancos fazem manifestações bebendo leite para chamar a atenção para um traço genético conhecido por ser mais comum em pessoas brancas do que em outros – a capacidade de digerir lactose quando adultos. É uma tentativa racista para se embasar em ‘ciência’ p/ diferenciar e justificar a ‘raça branca’. Mas como já provado e explicado por toda ciência: Não há evidência genética para apoiar qualquer ideologia racista”, conclui Nemer.
Fonte: Correio