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'Não é covid': mesmo com sintomas, baianos fogem de testes e ignoram isolamento

É gripe, rinite, resfriado, sinusite. Não faltam desculpas para tentar escapar do diagnóstico de covid-19 e, assim, continuar com a rotina. Mas, há também os casos daqueles que, mesmo testados e positivados, não estão se isolando, o que favorece o espalhamento da doença, que voltou a crescer na Bahia.

O estudante Tiago Nascimento, de 24 anos, teve contato com uma pessoa que testou positivo para covid-19, mas não se isolou e colocou a culpa dos espirros na rinite. “Acabei prosseguindo a vida normalmente, utilizando máscara para sair. Resisti para fazer o teste porque é caro e uma complicação, já que está difícil de agendar, mas acabei fazendo 4 dias depois do início dos sintomas e deu negativo”, conta. 

O consultor Álvaro Santos, de 24 anos, também colocou a culpa na rinite, mas não fez nenhum teste. Ele mora em Cairu, mas esteve em Salvador no início de dezembro e voltou espirrando e dizendo para a esposa, Maria Helena Azevedo, também de 24 anos, que era rinite. Mas logo surgiu a tosse e Maria Helena e a filha do casal, Maria Luísa, de 1 ano, também apresentaram sintomas. Mesmo assim, nenhum dos três realizou teste. 

“Ele esteve em Salvador bem na época do surto de gripe, então achamos que foi isso, mas não testamos. E, dos três, só Maria Luísa fez uma teleconsulta. Receitaram um antitérmico e pediram para que a gente não deixasse ela desidratar e ficássemos alerta para os sinais de falta de ar”, conta Maria Helena. 

Com Leonardo Macêdo, de 25 anos, a história foi parecida. Ele mora em Feira de Santana e começou a ter sintomas gripais na semana do Natal, no ano passado.

“Comecei com um pouco de tosse e coriza, mas achei que era alergia porque eu tenho esse histórico, aí não liguei muito. Depois que os sintomas se agravaram e surgiu a febre com calafrios e cansaço é que eu fiquei preocupado e decidi procurar um médico e fazer o teste. Aí veio o resultado positivo para covid e só então eu entrei em isolamento”, conta.

A fotógrafa e criadora de conteúdo Magali Moraes, de 36 anos, descobriu que uma pessoa com quem teve contato testou positivo para covid no último final de semana. Rapidamente, ela fez um teste e, também positivada, entrou em isolamento. Mas ela conta que, pelo que observa em seu ciclo, essa não é mais a regra. “Eu tenho muitos amigos que estão positivados e estão em isolamento. Mas, por outro lado, conheço pessoas, principalmente seguidores, que dizem que estão com sintomas gripais, deduzem que é algo leve e não fazem nem teste nem isolamento”, diz Magali. 

A criadora de conteúdo Magali Moraes testou positivoe se isolou, mas viu alguns de seus seguidores ignorarem sintomas gripais

(Foto: Arquivo Pessoal)

Nas redes sociais, famosos estão comentando sobre casos de pessoas que, mesmo com o diagnóstico positivo, estão em circulação. Nesta terça (11), o apresentador Marcos Mion publicou: “Eu tô maluco ou tem muita gente positivada de Corona vivendo normal por aí???!! Ignorando a quarentena e, possivelmente, contaminando muita gente? É isso mesmo??!?”. Nos comentários, os fãs concordaram e trouxeram alguns pontos para o debate.  

Um deles comentou: “Eu fui num hospital particular com coriza e garganta inflamada. Voltei com uma receita de soro pro nariz. Nenhum pedido de exame pra covid”. Outro ainda relatou: “Hoje cheguei no trabalho e tinha um colega sem máscara, com sintomas gripais, batendo papo, dizendo que o irmão festejou no fds e estava com covid. Ele saiu do escritório, por insistência dos colegas, e foi fazer um teste. Adivinha: positivo!”. Outro seguidor ainda comentou: “O que temos é patrão obrigando trabalhar mesmo positivado, gente que precisa sair pra ganhar o pão mesmo doente. Vamos considerar números de desemprego e trabalhador informal”.

O diretor de redação do BuzzFeed Brasil Fernando Oliveira também publicou sobre o assunto: “Assustado com relatos de que mesmo testando positivo pra covid pessoas têm vivido suas vidas normalmente. Somente nesse fim de semana vi um humorista falando que CINCO colegas fizeram show com direito a foto com fãs e um rapaz dizendo que dois conhecidos foram pra balada”. O humorista Paulo Vieira comentou a publicação: “Surreal. Uma conhecida me ligou pra dizer que estava positivada e uns 4 dias depois estava num casamento pulando numa pista de dança. É de uma falta de educação…”. 

Para a médica infectologista Áurea Paste, esse cenário é preocupante, já que a variante ômicron, que já está em circulação, tem alta taxa de transmissão. “Pessoas com sintomas respiratórios devem, imediatamente, ficar isoladas e procurar assistência médica e teste para um diagnóstico correto. Não podemos aceitar que essas pessoas não cumpram o isolamento adequado porque isso significaria um risco grande disseminar ainda mais tanto a gripe quanto a covid”, alerta.

“Se, por acaso, não há condições de fazer um teste, fica em isolamento. Na dúvida, é para considerar a infecção, e não o contrário. O quadro atual da covid parece ser mais leve, mas quem não estiver corretamente vacinado ou tiver fatores de risco pode precisar de internamento e evoluir para o óbito. Não podemos esquecer disso”, acrescenta a infectologista. 

Deixando os cuidados de lado

A fotógrafa e criadora de conteúdo Magali Moraes diz observar uma redução na preocupação das pessoas em relação à pandemia, o que reflete agora na relativização dos sintomas. “Desde março de 2020, eu estava em isolamento, levei muito a sério a pandemia. Estava fazendo mercado por aplicativo, não estava vendo meus pais e nem meus amigos. Era no nível de eu pegar o carro para dar uma volta e ver a rua porque não saía para nada. Mas, no final de 2021, estava tudo abrindo, os números mostraram uma melhora nos casos e tudo isso me fez flexibilizar os meus cuidados e eu voltei a sair. A vacina me fez me sentir mais segura e, na verdade, eu estou mesmo porque peguei covid e tive sintomas leves”, relata.  

Para Magali, o comportamento de relativizar os sintomas gripais acontece, principalmente, por conta do surto de gripe que acompanha agora, simultaneamente, a pandemia de covid-19. “As pessoas se sentem mais seguras para dizer ou deduzir que estão com gripe. Esse é o grande problema porque, antes do surto de gripe, os sintomas gripais eram logo associados à covid e as pessoas tinham uma preocupação grande. Agora é diferente porque tem a gripe e, além disso, tem o fato de estar todo mundo comentando sobre essa onda de covid da ômicron provocar só sintomas leves. Não estou vendo tanta preocupação nas pessoas”, opina. 

A criadora de conteúdo ainda ressalta que a dificuldade de realizar a testagem também contribui para que as pessoas não obtenham diagnóstico. “A gente tem que lembrar dos transtornos também para fazer um teste. Eu mesma tive que pagar, não é baratinho e nem todo mundo tem essa grana para isso ou um dia inteiro ou mais para sair à procura de uma testagem”, diz. 

Dificuldade de testagem

Para fazer um teste pelo plano de saúde, é preciso conseguir uma consulta, uma solicitação de testagem, realizar o procedimento e aguardar até mais de quatro dias para receber o resultado. Com a alta demanda neste início de ano, a fila de espera vai se formando. Se a pessoa não tiver plano de saúde, a outra opção é pagar um valor considerado por muitos como salgado para fazer o teste em laboratórios, clínicas ou farmácias. Mas o problema de espera pelo resultado continua, se for PCR. Para teste rápido, a espera é para conseguir realizar o teste. Redes particulares registraram aumento de até 300% na procura por testes a partir do dia 1º de janeiro. Algumas farmácias estão restringindo outros procedimentos para atender a demanda por covid e unidades do laboratório Leme, por exemplo, cancelaram os testes por falta de material. 

A jornalista da CBN Tatiana Vasconcellos publicou em suas redes sociais uma reclamação sobre os preços dos testes. “Os preços de teste pra covid, gente. sério, é indecente”. Ela ainda disse que os laboratórios procurados não aceitam todos os planos de saúde e, em um deles, a espera por um agendamento de teste é de oito dias. 

Sem plano de saúde e sem dinheiro, a outra opção é buscar o sistema público de saúde. Mas também há quem encontre dificuldades nessa rede. “Eu busquei um posto de saúde aqui em Salvador, mas eles tinham encerrado antes do horário porque já tinham acabado os testes disponíveis, não tinha mais ficha por causa da alta procura. Era para ter encerrado às 16h e, às 15h, já não tinha mais. Aí eu tive que retornar no dia seguinte mais cedo”, conta o produtor Matheus de Morais, de 26 anos. 

O advogado Guilherme Pitanga, de 25 anos, também encontrou dificuldade. “Eu tive muita dificuldade para conseguir fazer o teste. No dia 6 eu rodei de Stella Maria até o Bonfim buscando um posto da prefeitura para testar e não encontrei nenhum ainda com teste disponível. Tive que fazer no dia seguinte, pagando mesmo numa clínica particular”, relata.

Nos Estados Unidos e em países da Europa, por exemplo, a população pode comprar ou conseguir gratuitamente testes de covid-19 para serem feitos em casa. Enquanto isso, no Brasil, a testagem continua centrada em clínicas, laboratórios, farmácias e postos de saúde. Isso porque o chamado autoteste não é autorizado no Brasil por causa de uma resolução da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de 2015. Nesta semana, o Ministério da Saúde concluiu que o autoteste para diagnóstico de covid-19 pode ser uma “importante ferramenta de apoio” na contenção do vírus e pediu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que avalie o tema.

Testei positivo. E agora?

O Ministério da Saúde (MS) decidiu reduzir de 10 para 7 dias o período padrão recomendado de isolamento para pacientes com covid-19, caso não haja mais sintomas. Em entrevista coletiva dada nesta segunda (10), o ministro Marcelo Queiroga anunciou a nova recomendação do governo. Segundo o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, o Ministério usou como parâmetro as medidas de isolamento aplicadas nos Estados Unidos e no Reino Unido. No primeiro, o isolamento termina após 5 dias caso não haja mais sintomas. No segundo, o tempo de isolamento é de 7 dias, comprovado o fim da infecção com um teste negativo. Confira a nova recomendação do MS:

  • Isolamento de 5 dias:

Se ao 5º dia o paciente não tiver sintomas respiratórios e febre por um período de 24 horas, sem uso de antitérmico, ele pode fazer o teste (antígeno ou PCR). Se for negativo, ele pode sair do isolamento. Caso o paciente assintomático apresente teste positivo no 5º dia, deverá manter o isolamento até o 10º dia.

  • Isolamento de 7 dias:

Se ao 7º dia o paciente estiver assintomático, ele está liberado do isolamento, sem necessidade de fazer o teste. Se o paciente continuar com sintomas respiratórios ou febre, ele pode fazer o teste (PCR ou antígeno). Caso dê negativo, pode sair do isolamento. Se der positivo, deve ficar resguardado até 10 dias e só sair quando não tiver mais sintomas.

  • Isolamento de 10 dias:

Após 10 dias, se estiver sem sintomas respiratórios, não é necessário fazer o teste e o paciente pode sair do isolamento.

O Ministério da Saúde reforça que todos os pacientes devem manter todas as recomendações de cuidados até o 10º dia, como evitar aglomerações, evitar contato com pessoas com comorbidades, continuar usando máscara e outras medidas não farmacológicas.

A infectologista Áurea Paste acrescenta que a recomendação da Sociedade Brasileira de Infectologia é um pouco diferente. De acordo com a nota publicada nesta terça (11), o isolamento mínimo deve ser de 7 dias, e não 5. “A Sociedade Brasileira de Infectologia emitiu uma nota nesta terça (11) recomendando o isolamento para os sintomáticos por 7 dias. Mas, se ainda houver sintoma no 7º dia, o paciente mantém o isolamento até o 10º dia. Para quem fez o teste porque teve contato com um infectado, mas está sem sintomas, é isolamento de 7 dias a partir do resultado positivo do exame”, diz a médica. 

O que especialistas acham da redução do tempo de isolamento?

De acordo com uma publicação desta terça-feira (11) do Jornal O Globo, um novo estudo feito pelo Instituto Nacional de Doenças Infecciosas do Japão indica que a carga viral provocada pela ômicron atinge o pico e período de maior transmissibilidade entre 3 e 6 dias após o início dos sintomas ou do diagnóstico. Só diminuindo de forma acentuada após 10 dias. Estudos de antes apontavam que o período mais crítico acontecia entre 24 horas antes e 48 horas depois do início dos sintomas ou do diagnóstico.

Esse novo cálculo feito no Japão é especialmente importante no momento em que os EUA diminuíram o período de isolamento dos infectados para 5 dias. Com a explosão de casos, há países em que o percentual da força de trabalho afastada chega a 25%, prejudicando diversos serviços, inclusive o de saúde. Mas especialistas alertam que o isolamento de menos de 10 dias não tem base científica e que a redução é consequência de pressão econômica. 

“O ideal são 14 dias ou, ao menos, 10, mas já estamos vendo o período de isolamento de 5 dias quando o paciente é assintomático ou tem sintomas leves. Eu não defendo esse período tão curto porque é uma variante muito transmissível. Essa redução não tem base científica. Claro que cada caso é um caso porque temos países como a França com falta de médicos porque estão todos contaminados. Nos Estados Unidos, por exemplo, está todo mundo se infectando e tem empresas sem funcionários”, opina o imunologista Celso Sant’anna. 

Quando cita a França, Sant’anna se refere à medida do Governo de autorizar que médicos com sintomas leves ou assintomáticos continuem atendendo pacientes. Trata-se de uma medida paliativa extraordinária destinada a diminuir a falta de pessoal em hospitais e outras instalações motivada por uma explosão sem precedentes de casos.

Como fazer isolamento adequadamente?

Quem tem resultado positivo na testagem para covid-19, quem não fez o teste mas está com sintomas ou ainda quem teve contato com uma pessoa infectada deve seguir as seguintes orientações de isolamento:

  • Se possível, fique sozinho na residência ou, ao menos, sozinho no quarto
  • Se outras pessoas estiveram na residência, sempre que for dividir o mesmo cômodo com alguém, todos devem estar de máscara (bem ajustada, cobrindo nariz e boca) e afastados a uma distância de, no mínimo, 1,5m
  • Não compartilhe talheres, copos e outros objetivos de uso pessoal
  • Se precisar dividir o cômodo com alguém, durma em uma cama separada e, preferencialmente, de máscara
  • Mantenha a casa arejada e ventilada
  • Higienize as mãos com frequência
  • Separe a roupa e o lençol que usar ao colocar para lavar. As peças têm que ser lavadas com sabão comum e água, idealmente entre 60 e 90ºC. 
  • Escolha um familiar para atender as necessidades que, por ventura, venha a ter (de preferência, alguém com boa saúde e sem doenças crônicas)
  • Higienize as superfícies do quarto e do banheiro diariamente. Para limpar, use primeiro sabão ou detergente e depois um desinfetante comum com hipoclorito de sódio a 0,1%

Fonte: Agência Brasil

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