Disputada desde 1989, a Copa do Brasil já é conhecida por ser palco de algumas zebras. Afinal, é no principal torneio de mata-mata do país que alguns times de menor expressão nacional conseguem superar gigantes e até alcançar o título. E a edição atual não é exceção.
A primeira fase, encerrada nesta semana, já rendeu uma boa cota de eliminações surpreendentes. Como a do pentacampeão Grêmio, que caiu para o Mirassol após derrota por 3×2 fora de casa. O arquirrival Internacional, dono do título de 1992, também foi protagonista de um vexame, sendo eliminado pelo Globo-RN ao perder por 2×0, no Barrettão.
Mas não parou por aí: campeão em 2008, o Sport sucumbiu para o Altos por 1×0, no Lindolfo Monteiro, em Teresina. Outra zebra foi o Moto Club, que superou a Chapecoense por 3×2, no estádio Castelão, no Maranhão.
O CORREIO listou dez vezes na história em que a Copa do Brasil surpreendeu. Veja:
Criciúma campeão (1991)
O Criciúma foi a primeira zebra campeã da Copa do Brasil. Em 1991, na terceira edição do torneio, o clube de Santa Catarina – então treinado por Luiz Felipe Scolari – chegou ao título ao superar o Grêmio na final, com dois empates: 1×1, em Porto Alegre, e 0x0, em casa.
Criciúma campeão da Copa do Brasil de 1991 |
Mas, antes disso, uma outra vítima já havia sido abatida. Nas oitavas, o Tigre enfrentou o Atlético-MG e venceu as duas vezes. Na ida, no Heriberto Hülse, o time contou com um gol de Vanderlei, aos 10 minutos, para assegurar o 1×0. Na volta, ganhou pelo mesmo placar, dessa vez garantido por Roberto Cavalo, aos 21 da primeira etapa.
A campanha, aliás, foi invicta e teve apenas três gols sofridos. Com o título, o Criciúma, que disputava a Série B, se tornou o primeiro campeão da Copa do Brasil que não participava da elite no mesmo ano.
Linhares elimina o Fluminense (1994)
Em 1994, um desconhecido Linhares, do Espírito Santo, chegou até as semifinais da Copa do Brasil. Sem dúvidas, foi a maior surpresa daquela edição – e a grande vítima foi abatida ainda na primeira fase: o Fluminense, que era treinado pelo ex-lateral Carlos Alberto Torres e tinha jogadores do quilate de Branco (que seria campeão mundial com a Seleção Brasileira alguns meses depois) e Ézio.
Linhares se classificou em 1994 com dois empates sobre o Fluminense (Foto: TV Globo/Reprodução) |
A eliminação do tricolor carioca veio após dois empates. No primeiro jogo, nas Laranjeiras, as equipes ficaram no 2×2. Na volta, o Fluminense ia ganhando de 1×0 até os 45 minutos do segundo tempo. Foi então que, em uma cobrança de falta, Arildo mandou para o fundo das redes, deixou tudo igual e garantiu a vaga para o time capixaba.
Na sequência, o Linhares eliminou São José-AP e Comercial-MS, mas caiu para o Ceará nas semifinais.
Palmeiras é surpreendido pelo ASA (2002)
Quando se fala em zebra na Copa do Brasil, uma das eliminações mais lembradas é a do Palmeiras em 2002. Treinado por Vanderlei Luxemburgo, o Verdão tinha vários jogadores que ganharam a Libertadores em 1999, como o goleiro Marcos, o lateral-direito Arce e o meia Alex. Mas a equipe estrelada sucumbiu para o modesto ASA, de Arapiraca.
No primeiro jogo, em Alagoas, o time da casa venceu por 1×0. Na volta, o Palmeiras abriu com Galeano, mas o rival buscou o empate ainda no primeiro tempo, com Sandro Goiano.
O resultado obrigava o Verdão a fazer mais dois gols. Mas só conseguiu marcar um, com César. E, apesar da vitória por 2×1, o ASA foi quem ficou com a vaga pelo gol feito fora de casa, critério que ainda era vigente na época.
ASA eliminou o Palmeiras em 2002 (Foto: Reprodução/SporTV) |
O time de Arapiraca, porém, não teve vida longa na competição. Logo na fase seguinte, o ASA caiu para o Confiança-SE, após vitória em casa por 2×1 e derrota fora por 4×0.
Brasiliense na final (2002)
No mesmo ano em que o Palmeiras caiu para o ASA, uma outra zebra conseguiu alcançar a final: o Brasiliense. E uma das vítimas mais impressionantes foi o Fluminense, que na época tinha Oswaldo de Oliveira como treinador e jogadores como Magno Alves e Roger Flores no elenco.
Foram duas derrotas do tricolor carioca para o clube do Distrito Federal nas quartas de final. As duas, por 1×0 e com o mesmo ‘vilão’: o atacante Wellington Dias. Ele, aliás, teve uma ajudinha do goleiro Murilo no confronto da volta, no Maracanã. Aos 7min do primeiro tempo, o arqueiro tentou dar um chute após uma bola recuada, mas acabou furando. Wellington Dias aproveitou a falha e marcou o gol.
A zebra não parou por aí. A campanha do Brasiliense também incluiu duas vitórias sobre o Atlético-MG nas semifinais, por 3×0 e 2×1. Mas, na decisão, a equipe sucumbiu diante do Corinthians, que ficou com o título.
Lance da final entre o Brasiliense e o Corinthians |
Vitória atropela o Palmeiras (2003)
O Vitória também entra nessa lista, graças a um chocolate aplicado no Palmeiras. No jogo de ida das oitavas de final de 2003, o Leão visitou o Verdão e atropelou o rival por incríveis 7×2. Na época, foi a pior goleada sofrida pelo time paulista no Palestra Itália em competições nacionais. O resultado deixou os jogadores envergonhados ao saírem de campo.
O Palmeiras ainda tinha nomes importantes no elenco, apesar do rebaixamento à Série B no ano anterior. E um deles viveu um dia de vilão: o goleiro Marcos, que havia sido pentacampeão com a Seleção Brasileira no ano anterior.
O primeiro gol do Vitória veio ainda aos 9 minutos. Nadson recebeu de Allan Dellon, dominou e tocou cruzado, fraquinho. Marcos saltou para fazer a defesa, mas deixou a bola passar por baixo de seus braços. Não demorou muito e veio a segunda falha: aos 17, o goleiro fez um pênalti bobo no atacante rubro-negro. Zé Roberto cobrou e ampliou.
Abatido em campo, o Verdão sofreu o terceiro gol três minutos depois – e de novo com Nadson. O ídolo do Vitória ainda sofreu uma falta violenta, por trás, cometida pelo zagueiro Gustavo. Cartão vermelho para o defensor, deixando a situação ainda pior para os paulistas.
O Palmeiras conseguiu diminuir aos 39, com Thiago Gentil. Mas não deu nem para respirar: três minutos depois, Nadson driblou Adãozinho, invadiu a área e tocou na saída de Marcos: 4×1 para o Vitória, só no primeiro tempo.
A volta do intervalo teve mais emoção. Ainda aos 2 minutos da etapa final, Dudu Cearense arrancou do meio-campo, chegou até a área e estufou as redes, assinalando o quinto gol rubro-negro. Inconformados, dois torcedores chegaram a invadir o gramado.
Pouco depois que o jogo recomeçou, o Vitória chegou ao sexto gol. Aos 20 minutos, o zagueiro Marcelo Heleno cabeceou e deixou o dele. Dois minutos depois, Correa, em cobrança de falta, fez mais um para o Palmeiras: 6×2.
O desfecho da tragédia do Verdão foi o pior de todos. Aos 32min, Nadson foi lançado no ataque. O lance, inicialmente, não parecia ser perigoso, já que a bola veio muito forte, fácil para Marcos. Mas o goleiro pentacampeão, em um momento de quase comédia pastelão, furou de forma bizarra. O artilheiro do jogo ficou com o gol aberto e aproveitou, assinalando o 7×2.
Na volta, o Palmeiras até ganhou de 3×1, mas o esforço foi em vão, e o Vitória ficou com a vaga nas quartas. O Leão, porém, caiu para o Flamengo, após derrotas por 2×1 e 3×1.
15 de Novembro desbanca o Vasco (2004)
O técnico Mano Menezes conquistou a Copa do Brasil três vezes – uma pelo Corinthians (2009) e duas pelo Cruzeiro (2017 e 2018). Mas a história na competição começou bem antes, em 2004, e em um time desconhecido: 15 de Novembro, da cidade gaúcha de Campo Bom.
A equipe começou sua campanha diante da Portuguesa Santista, e conseguiu avançar após dois empates. Na segunda fase, o oponente seria o Vasco. O cruz-maltino saiu na frente do placar no primeiro jogo, em Campo Bom, com gol de Alex Alves. Mas teve Marcelinho Carioca expulso no fim da etapa inicial e, após a volta do intervalo, viu o 15 de Novembro empatar com Dauri.
Jogadores do 15 de Novembro comemoram gol sobre o Vasco |
O milagre dos gaúchos aconteceu mesmo na volta. Em pleno São Januário, a equipe visitante surpreendeu e fez 3×0, eliminando o Vasco. Todos os gols, aliás, foram marcados segundo tempo: dois de Dauri, aos 24 e 35 minutos, e um de Canhoto, em rebote após cobrança de pênalti, aos 26.
O time gaúcho ainda passou pelo Americano nas oitavas, com vitórias por 2×1 e 3×2, e pelo Palmas nas quartas, também ganhando duas vezes (3×0 e 1×0). Mas, nas semis, caiu para o Santo André.
Baraúnas e novo fiasco do Vasco (2005)
A lembrança da eliminação para o 15 de Novembro ainda estava na memória quando o Vasco sofreu mais uma zebra. Na edição seguinte, o cruz-maltino, que tinha Romário no comando de ataque, caiu para outro modesto rival: o Baraúnas, do Rio Grande do Norte, pelas oitavas de final.
No primeiro jogo, em Mossoró, empate em 2×2. Eis que, na volta, o Vasco perdeu pelos mesmos 3×0 do ano anterior, e de novo em São Januário. Cícero Ramalho abriu o placar, aos 26 minutos do primeiro tempo. No segundo, Toni deixou o dele aos 10 e Henrique selou o placar, aos 22. Após o vexame dentro de casa, Joel Santana, que era o técnico do time carioca, deixou o cargo.
Cícero Ramalho e Romário na Copa do Brasil de 2005 |
O Baraúnas, aliás, já tinha eliminado o América-MG e o Vitória. Mas, depois de passar pelo Vasco, teve o Cruzeiro pela frente nas quartas, e levou duas goleadas: 7×3 e 5×0.
Milagre do América-RN (2014)
O América-RN protagonizou uma das viradas mais impressionantes do futebol brasileiro na terceira fase da Copa do Brasil de 2014. O time tinha como rival o Fluminense e, no jogo de ida, sofreu uma pancada em Natal: 3×0.
A situação para a volta era tão complicada que o técnico Oliveira Canindé poupou jogadores na escalação da volta, no Maracanã. E, no primeiro tempo, parecia que a vaga já estava definida: 2×1 para o clube carioca, gols de Fred e Cícero – Marcelinho descontou.
Para a equipe do Rio Grande do Norte avançar, tinha que fazer quatro gols no segundo tempo. E conseguiu. Max empatou aos 4 minutos, Alfredo virou aos 30, ampliou aos 37 e Rodrigo Pimpão marcou o gol da classificação, aos 45.
O América-RN ainda eliminaria o Athletico-PR nas oitavas de final, mas, nas quartas, caiu para o Flamengo.
Placar mostra o inesperado resultado do América-RN sobre o Fluminense (Foto: América-RN/Reprodução/Twitter) |
Atlético-MG cai para o Afogados (2020)
A zebra não ficou só nas edições mais antigas da Copa do Brasil. Em 2020, o Atlético-MG sofreu uma eliminação que gerou muitas piadas nas redes sociais: para o Afogados. O jogo era válido pela segunda fase do torneio, e seria em duelo único, em Pernambuco. Caso houvesse empate, a decisão da vaga iria para os pênaltis. Foi o que aconteceu.
No tempo regular, os dois times ficaram no 2×2, com gols de Candinho e Philip (para o Afogados) e Gabriel e Ricardo Oliveira (para o Atlético-MG). Era a hora das penalidades. E a disputa foi longa: 18 cobranças no total. O Galo começou bem, marcando os dois primeiros, enquanto Diego Ceará e Douglas Bomba desperdiçaram.
Afogados bateu o Atlético-MG nos pênaltis |
Nas cobranças seguintes, porém, a situação se inverteu. Allan e Nathan perderam para o time mineiro, e o Afogados, dali pra frente, acertou todas. Nas alternadas, Gabriel mandou para fora, e a equipe pernambucana conseguia a classificação histórica. O resultado, aliás, levou à demissão do então técnico do Galo, Dudamel.
A vida do Afogados na competição, porém, foi curta. Na terceira fase, o time sofreu duas derrotas para a Ponte Preta, por 3×0 e 2×0, e se despediu do torneio.
Juazeirense elimina maior campeão (2021)
A Juazeirense começou bem a Copa do Brasil de 2021. Logo de cara, venceu o Sport por 3×2 e, em seguida, eliminou o Volta Redonda nos pênaltis, após empate em 3×3 no tempo regular. Mas, na terceira fase, teria como oponente o maior campeão da competição, o Cruzeiro, dono de seis títulos. No primeiro jogo, perdeu por 1×0, em Belo Horizonte. Até que, na volta, alcançou o maior feito da sua história.
O Cancão de Fogo teve mais posse de bola e chegou com mais perigo na etapa inicial, mas foi para o vestiário com o 0x0. Na etapa final, tomou um enorme susto quando Airton perdeu gol na cara do gol. Até que, aos 40 minutos, Thauan apareceu livre para fazer o 1×0 e levar a decisão para os pênaltis.
Juazeirense eliminou o Cruzeiro na Copa do Brasil 2021 |
A Juazeirense acertou as três primeiras cobranças, enquanto o Cruzeiro errou os dois primeiros. Fábio chegou a dar um alento ao defender chute de Guilherme Lucena, mas Rodrigo Calaça defendeu a cobrança de Matheus Barbosa e garantiu a vaga baiana.
Nas oitavas, o Cancão sucumbiu para o Santos. Perdeu por 4×0 na ida e até venceu na volta, por 2×0, mas o placar foi insuficiente.
Fonte: Agência Brasil