A música Faraó (Divindade do Egito), de Luciano Gomes, é obrigatória em qualquer repertório carnavalesco. Essa canção apareceu no Femadum, o famoso Festival de Música do Olodum e estourou em 1987, sendo o primeiro samba reggae a ser gravado e vendeu mais de cem mil discos na época. Hoje, quando se fala em Faraó, imediatamente lembramos de Margareth Menezes. Mas será que sempre foi Maga a voz de Faraó? É isso que você vai descobrir nesse texto de hoje do Baú do Marrom.
Das quadras do Olodum, a música começou sua trilha de sucesso quando a Banda Mel – no auge em sua formação original com os vocalistas Buck Jones, Janete e Jaciara (essa já nos deixou) – fez uma gravação ao vivo que foi lançada em primeira mão pela Itapoan FM. Rádio que era campeã disparada em audiência e tinha como programador o radialista Cristóvão Rodrigues. Aos primeiros acordes de Eu falei Faraó Eh Faraó! o publico ia a loucura.
Enquanto a música pipocava nas rádios a Banda Mel entrou em estúdio para gravar o disco que incluiria Faraó. A faixa foi gravada. Mas o disco só foi lançado depois que todo o repertório foi fechado. Nesse intervalo aparecem os dois personagens que mudaram o curso da história: o cantor e compositor Djalma Oliveira e uma menina que fazia teatro e era amiga da trupe do Circo Troca de Segredos (que funcionava na Ondina) chamada Margareth Menezes.
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Capa do disco original de Djalma Oliveira com participação especial de Margareth |
Djalma Oliveira oriundo do movimento do rock na Bahia já tinha gravado três discos e cantado no trio elétrico Novos Bárbaros. No auge da axé music, nos anos 1980, ele era o comprador de discos para a Rede de Supermercados Paes Mendonça, a maior do estado. Ele ajudou a muitos artistas da cena axé a serem lançados, garantindo a compra de discos o que viabilizava o investimento das gravadoras. Principalmente a Continental, primeira a apostar pesado na chamada nova música baiana.
Em conversa com o Baú do Marrom, Djalma Oliveira que atualmente faz um programa de rádio na Anguera FM relembrou essa saga:
“Assistindo ao Femadum que projetou diversos artistas para o nosso mercado da música, quando anunciaram a música Faraó,de Luciano , eu fiquei impressionado com a feliz coincidência. Estava com minha família e falei: vou atrás desse sucesso, pois chegou a minha hora. Nesse mesmo dia, no Pelourinho, localizei Luciano e perguntei se alguém tinha solicitado a liberação da música. No dia seguinte eu estava no estúdio da WR. Foi quando pensei em convidar uma cantora de voz negra diferenciada. Foi então que meu amigo Tuca Lago me chamou para eu ouvir uma menina chamada Margareth”.
No entanto Margareth não tinha sido a primeira opção porque Djalma confessou ter pensado inicialmente em Alobened (que depois integraria a Banda Mel), Marinês (que estourou com a Banda Reflexus, hoje ela é cantora evangélica) e até Márcia Short outra que também integrou a banda Mel e depois fez a Bandabah com Robson. Mas quis o destino que a escolhida fosse Margareth.
“Ainda me lembro bem que, quando fui falar com Margareth ela não acreditou dizendo: é sério negão? Mas fica complicado porque o estilo que eu quero fazer é jazz, soul e Blues. Ai eu falei: Destaco na capa como participação especial (o que realmente aconteceu). Já tínhamos concluída a gravação e a CBS (atual Sony Music) gravou o disco em três dias”, concluiu Djalma.
A partir dai é história. A carreira de Margareth deslanchou, ela se tornou uma das vozes mais poderosas da música baiana, obteve reconhecimento nacional e fez carreira internacional. Eu mesmo tive o prazer de vê-la na França, em Paris e na Suíça no Festival de Montreux, em noite memorável quando ela, Daniela Mercury e Ivete Sangalo cantaram para delírio da plateia: Eu falei Faraó.
Fonte: Agência Brasil