Os avanços para o tratamento de tumores de mama foram o destaque na 58ª edição da ASCO, maior evento da oncologia mundial, promovido pela American Society of Clinical Oncology, que aconteceu em junho nos Estados Unidos. No Brasil, surgem 66 mil novos casos por ano e quase 18 mil mulheres morrem vítimas da doença.
Podemos dividir os cânceres de mama em três grandes grupos. O primeiro, com cerca de 70% dos casos, apresenta receptores de hormônio feminino em sua superfície, que estimulam o crescimento tumoral. O segundo grupo, formado por cerca de 15% das pacientes, abarca um tipo de tumor conhecido com HER2-positivo, uma proteína que quando superexposta é a principal via de proliferação tumoral. O último, que afeta cerca de 15% das pacientes, não expressa receptores de hormônios feminino nem da proteína HER2, e são conhecidos como tumores triplo negativos.
Estes três grupos de tumores são tratados, inicialmente, com bloqueio hormonal, bloqueio anti-HER2 e quimioterapia, respectivamente. No entanto, a ASCO 22 veio para chacoalhar este entendimento clássico.
A grande revolução veio com o Trastuzumabe-Deruxtecan, medicamento produzido para tratar pacientes com HER2 positivo. Ao ser infundida, a droga é internalizada pela célula tumoral e libera a quimioterapia extremamente potente que mata instantaneamente a célula-alvo, e as células tumorais vizinhas, como um verdadeiro Cavalo de Tróia. O Trastuzumabe-Deruxtecan já está disponível no Brasil e é utilizado como tratamento padrão em tumores com carga alta de receptores HER2+. Agora, essa droga pode ser usada também em pacientes HER2 negativo, ampliando seu poder de alcance de 15% para 60% de todas as pacientes com tumores de mama.
Outro caminho promissor, apresentado na ocasião, foi a pesquisa que abordou a utilização de uma “biópsia líquida” que graças aos avanços tecnológicos laboratoriais detecta o DNA da célula tumoral com uma simples amostra sanguínea da paciente. E quando chegar à prática clínica diária nos consultórios, a técnica promoverá a personalização do tratamento do câncer de mama.
O estudo coreano ASTTRA propõe a combinação entre medicação para “adormecer” os ovários por dois anos, associado a medicação oral para bloqueio hormonal periférico por cinco anos. Conclusão: resultados excelentes com taxas de cura acima de 90%.
Para casos metastáticos da doença o destaque foi para o Capivasertibe, medicamento que associado ao tratamento hormonal padrão, atua nas vias de resistência da célula tumoral agindo contra o tratamento anti-hormônio padrão, com ganho de sobrevida de cerca de 40% das pacientes. Esta droga ainda não está disponível no Brasil, mas acreditamos que chegue em breve.
O mundo anseia que esses avanços cheguem aos consultórios e possam beneficiar o maior número de mulheres no Brasil e no mundo.
Dr. Pedro Exman é médico oncologista e coordenador do núcleo de tumores de mama e ginecológicos no Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Graduado em Medicina pela Universidade de São Paulo, com Residência Médica em Clínica Geral no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, seguido por Residência em Oncologia Clínica no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). Durante as residências, realizou estágios observacionais no Dana-Farber Cancer Institute/Harvard Medical School (Boston-EUA, 2011) e no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center (NY-EUA). Em 2017 e 2019 fez post-doctoral fellowship focado em câncer de mama e gastrointestinal no Dana-Farber Cancer Institute/Harvard Medical School.
Fonte: Agência Brasil