Lorem ipsum dolor.

Sucesso com músicas '+18', pagodeiro Oh Polêmico nunca curtiu Carnaval. Entenda

Foto: Divulgação

Se é para causar polêmica, já começo o texto corrigindo o próprio título: pagodeiro, não! Pagotraper. Assim prefere ser classificado em relação ao estilo musical o cantor e compositor Deivison Nascimento Santos, 23 anos, cria de Tancredo Neves, periferia de Salvador. O próprio nome do bairro é uma polêmica e tanto, afinal, chamava-se Beiru –  que a tradição oral dá conta de ter sido um líder negro escravizado que lutou contra a servidão involuntária na região do Cabula, no século XIX – e foi rebatizado com o nome de um governante branco que, fosse do tempo de GBeiru, a gente supõe qual papel exerceria.

Mas boa parte da turma do bairro não liga muito para essa mudança, afinal, Beiru tem rima, e para fugir dela, dizem valer o sacrifício histórico. Porém, se tem uma pessoa que não vê problema em meter uma rima obscena, em qualquer verso e refrão, esse cara é Oh Polêmico, atual nome artístico de Deivison, o qual, ainda hoje, tenta encontrar a alcunha ideal para dar continuidade à sua carreira, em franca ascensão.

O primeiro nome artístico do rapaz que, antes de começar a tocar, trabalhava num mercadinho do bairro como repositor, parecia uma virada na vida: O Playboy.

“Comecei cantando funk, aqui nas comunidades. Daí fui morar em Guarajuba, onde meus pais vivem. Meu pai trabalhava de caseiro lá e sempre teve banda de pagode. Comecei como dançarino, depois backing, e aí eu pedi a ele pra montar um projeto pra mim, que foi a Playboy Hits. A galera na época me chamava de MC Playboy”, relembra sobre o apelido de uma temporada.

A denominação atual nasceu nos babas da vida. “A história do Polêmico começou por causa de resenha de futebol. Quando eu fazia gol era aquela agonia, e também questionava muito as marcações. Aí a galera começou a dizer: ‘rapaz, você é polêmico, viu’, e pegou”. Pegou, mas já pode começar a desapegar de novo, afinal, seu principal hit traz uma atualização do epíteto. ‘Samba do Polly’, que não é pagotrap nem pagofunk, já começa dando o tom do estilo do moço nada pollydo.

“Tu tá sapeca, tu tá assanhada. Chegou na sua casa, tu não aguenta ver minha vara. Ela quer sentar, sentar na vara”, são os versos arbóreos com os quais costuma introduzir o sambinha, embora o desfecho vá dar em algo menos explícito.

Pagode fast-f*de
Polly admite que quer biscoito quando opta pelas músicas de duplo sentido (ou de sentido único mesmo). E o ‘Samba do Polly’, que tem uma versão “limpa”, é um parâmetro para explicar sua estratégia mercadológica, por ora. “O pagode putaria, hoje em dia, a galera consome, mas chega um tempo que passa. E aí vem outra banda e lança outra. Mas o samba, não, é diferente. É uma parada que vem pra ficar, e vai pra outros lugares. Por isso que eu também tô inovando, já colocando um samba raiz no repertório”, adianta o autor de outras pérolas desbocadas, como ‘Cabo C’ (que faz um trocadilho com b*ceta), ‘X*reca no pique’ (que dispensa maiores explicações) e ‘R*la entrando’ (talvez Silvio Santos queira cobrar royalties).

Sobre críticas ao repertório ‘+18’, não consta que se importe tanto.

“Não ligo. Tem umas críticas que levo como construtivas. Por exemplo, hoje eu sei que o que bate é a putaria, mas sempre procuro largar uma limpa também. E das que têm putaria, muitas estão sendo limpas, para tocar no rádio, televisão, que serão liberadas em breve”, dá um spoiler sobre o que está por vir.

A ideia de ‘limpar’ as letras, ou seja, torná-las permitidas para menores, veio da percepção que seu trabalho solo, gravado entre março e abril deste ano, e que só veio estourar de vez praticamente no mês passado, rompeu a bolha dos paredões, onde o fazer artístico mais erotizado é fruído sem ninguém se ruborizar. “Me surpreendeu a galera escutando em casamento, em reunião de família. Às vezes eu vejo também idosos ouvindo”, relata.

A principal inspiração nos palcos, conta, é o cantor Léo Santana, pela atitude no palco e pela dança. Já nas composições, é a turma do funk que faz sua cabeça, a exemplo Orochi, MC Poze, Matuê e Filipe Rent. “No pagode que eu canto hoje, eu uso muito o pagotrap, o pagofunk, uma mistura. Esse samba eu inovei em algumas coisas, e por isso que eu dei esse nome de ‘Samba do Polly'”. Uma variação polemiquinha que deu certão.

Caseiro
Apesar da presumível intimidade com a vida noturna, os réguis e paredões da vida, Oh Polêmico nunca foi muito de festa. Curtir o Carnaval, por exemplo, é algo que nunca fez na vida, e ao que tudo indica, antes disso, deve estrear nele como uma das estrelas da festa. 

“Eu nunca fui de sair, não. Ficava em casa, criando minhas músicas, jogava um futebol de vez em quando. Nunca fui muito de Carnaval. Sempre tive medo, por conta das brigas. Nunca fui pra curtir, só pra trabalhar. Meu tio montava umas barracas na Barra, aí eu ia, trabalhava os sete dias. Ficava lá vendendo cerveja com ele, o dia todo, carregando caixa de cerveja pra cima e pra baixo. Trabalhava e voltava cedo pra casa”, revela o rapaz, que é casado e pai de um menino de 7 anos.

Na folia do ano que vem, apesar do sucesso nas rádios e nos tocadores, sua presença ainda não está garantida nos principais circuitos. Só sabe que irá tocar na folia do Nordeste de Amaralina, como em outras ocasiões já aconteceu, embora aposte que fará a estreia num trio nos corredores mais badalados. 

“Vai ser minha primeira vez no Carnaval, em algum trio, e antes minha primeira vez no Salvador Fest, que eu fiz só uma participação com O Metrô. Agora é como show completo”, comemora ele, que na época da banda, da qual saiu no final do ano passado, já tinha emplacado o sucesso ‘Online e metendo’ – aquele que foi pano de fundo para Ray Baratino avisar que tava colocando o café dos meninos.

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por Raay Baratino (@raybaratinooficial)

No período que passou em Guarajuba, a preferência pela tranquilidade do lar ainda virou ofício. “Trabalhei de caseiro com meu pai, tomando conta de casa de piscina, pousadas. Depois eu arranjei um trabalho numa barraca de praia, a Garça Dourada, como barman, onde fiquei por um ano. Mas o trabalho lá, pra conseguir, é um pouco difícil, porque só rola mais no verão”, relembra sobre o retorno invernal à capital, há cerca de cinco anos.

De volta a Tancredo Neves, sua mãe descolou um vaguinha de menor aprendiz no supermercado GBarbosa, do qual só saiu quando ingressou na banda O Metrô.

Foto: Divulgação

Fama e assédio
O ex-aluno do colégio Zumbi dos Palmares, no Beirives, agora estuda os próximos caminhos que tomará na carreira. Além de abrir alas para o samba e para letras no máximo softporn, mas sem perder a identidade grave da voz, já se prepara para tocar fora do estado no mês que vem. “A galera de fora pede muito nosso show. E é gente de fora mesmo”, diz, quando pergunto se são baianos que moram longe.

De longe, aliás, tem novos parceiros pintando na área: o jovem influencer Kwon Min-Sung, o coreano pagodeiro que viralizou nas redes sociais, chega no próximo dia 28 a convite (com tudo pago) de Polly. Foi esta coluna, aliás, que colocou o coreano na rota da Bahia, ao alertar o gringo sobre sua popularidade por aqui e, claro, saber dele o que achou do ‘Samba do Polly’. 

Se o coreano – que participará de clipe e outras ações do cantor em Salvador – ainda samba e brilha de longe, Oh Polêmico está perto desse calor humano de quem o admira, embora ainda se assuste com certos exageros. 

Rubro-negro de arquibancada, caiu na besteira de descer pro Barradão, sem segurança, num dia de jogo do Vitória superlotado, há cerca de três semanas. Teve que pedir arrego no meio do jogo.

“Gosto de ir, mas fui na última vez e foi muita agonia. Fiquei na torcida, na hora do gol me jogaram longe. Foi agonia de foto, o segurança doido. Eu fico besta. A galera vai em cima, puxa camisa, tira chapéu, puxa de um lado, de outro. Eu não gosto de andar com segurança, mas tem gente que é barril, véi”, analisa o novo morador de um condomínio em Lauro de Freitas que, além de multiplicar fãs e hits, incrementa a conta bancária sambando e jogando de ladinho: no último final de semana foram dez shows na capital e região metropolitana. Polly quer o mundo.

Fonte: Agência Brasil

WP2Social Auto Publish Powered By : XYZScripts.com