Quando a pandemia estava ainda na fase aguda, os músicos baianos Armandinho Macêdo (guitarra e bandolim), Yacoce Simões (piano) e Marco Lobo (percussão) se reuniram no estúdio Taba 10, de Yacoce, para gravar uma homenagem a Gilberto Gil e Caetano Veloso, que iriam completar 80 anos agora em 2022. O resultado foi o álbum instrumental Retocando Gil e Caetano, lançado nas plataformas de música pela gravadora Biscoito Fino.
Agora, praticamente um ano depois, o trio vai se reunir para mostrar ao vivo ao público de Salvador as versões que fizeram para clássicos como Palco, Menino Deus, Tropicália e Eu Vim da Bahia. As apresentações vão acontecer no Estação Rubi, no Wish Hotel da Bahia, sexta e sábado desta semana.
Mas o público pode se preparar para soltar a voz: Yacoce diz que, embora seja um show instrumental, com três exímios músicos, não se trata de um espetáculo de virtuosismo para exibir o talento deles. “Não usamos, por exemplo, solos longos. São canções, então o público participa, canta tudo. Na verdade, a gente fez para isso. Para dar esse deleite à plateia”, diz Yacoce, que além de ser o pianista, produziu o álbum.
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Armandinho |
Os shows desta semana marcam também o lançamento do CD, que tem as mesmas faixas da versão lançada nas plataformas de música. O trio vai autografar os CDs após as apresentações. “Ué, mas alguém ainda compra CD?”, deve estar se perguntando o leitor. Para Yacoce, a música está partindo para atender a nichos: “Está entrando num perfil de segmentação. Por incrível que pareça, a demanda por vinil tem crescido. E o CD se tornou um ‘mimo’, um cartão de visitas. É uma memória física, como a foto de família que você imprime para não correr risco de perder”.
O repertório dos shows é praticamente o do álbum e a escolha das músicas aconteceu democraticamente, feita pelos três artistas. Inicialmente, cada um fez uma listinha com 20 ou 30 músicas de Gil e Caetano. Depois, compararam e viram as que mais se repetiam. Aproximadamente um terço estava nas listas individuais. Depois, eles chegaram a um consenso fizeram a seleção final.
Para Yacoce, não podia faltar Palco, uma de suas favoritas entre as canções de Gil, que se tornou praticamente uma “oração” para ele:
“É uma música que diz muito para todos nós, músicos, porque Gil conseguiu de forma brilhante traduzir e sintetizar o nosso sentimento quando estamos no palco. A gente sempre tem no palco um altar e Gil conseguiu fazer dessa canção uma referência para nós”.
As canções relacionadas ao Carnaval merecem um bloco especial no fim da apresentação. “Nós contamos a história de Gil e Caetano contando a história do Carnaval da Bahia”, diz Yacoce. Entre as faixas carnavalescas, está uma que é pouco conhecida e o público terá a rara chance de ouvir ao vivo: se chama Armandinho, que Caetano compôs em homenagem ao instrumentista que imortalizou a guitarra baiana.
Armandinho diz que sempre teve vontade de gravar a música composta para ele, mas, como a letra o elogiava, tinha receio de que ficasse muito cabotino, porque a letra fala dele mesmo. Como agora a versão é instrumental, ficou mais à vontade: “Durante uma época, Caetano lançava, todo ano, a pedido da [gravadora] Philips um compacto com músicas de Carnaval. E nos anos 80, ele gravou Armandinho. A letra é linda, fala de mim [Ele é o filho lindo do som de Dodô e Osmar/Ele é o filho de Oxalá]”.
Muito se fala das qualidades de Gil e Caetano como letristas. Yacoce, porém, faz questão de destacar o valor deles também como criadores de melodias: “Gil é um exímio violonista, mas é também exímio compositor de grandes melodias. Compõe samba, reggae, forró, pop… se não tivesse
musicalidade absurda, jamais comporia nesse nível”.
Yacoce também destaca momentos “brilhantes” de Caetano como músico, ainda que o próprio artista afirme que não é um instrumentista com a mesma qualidade de Gil. “Mas, como compositor de melodias, Caetano é um gênio. Não tem a perícia de Gil como instrumentista. Mas o talento dele para melodias dele é de gênio”, sentencia.
Café Teatro Rubi passa a se chamar Estação Rubi
O Café Teatro Rubi começou a funcionar em 2013, no Wish Hotel da Bahia e permenceu aberto por sete anos. Fechou em 2020, em razão da pandemia e agora volta a funcionar no mesmo local, com uma programação temporária, até o final de novembro, com um novo nome: Estação Rubi. Eliana Pedroso, responsável pela concepção e curadoria do espaço, diz que pretende levar as atrações a outros locais, transformar num projeto itinerante.
A agenda para setembro e outubro já está definida, com um atração diferente a cada semana. Depois do show em homenagem a Gil e Caetano, vão se apresentar: Targino Gondim (23 e 24 de setembro); Andança (30/09 e 1º/10); Paulinho Boca de Cantor (14 e 15/10); Alexandre Leão e Joatan Nascimento (21 e 22/10) e Lazzo (28 e 29/10).
“O projeto Estação Rubi tem um conceito sólido, de curadoria que privilegia artistas que tragam produtos de excelência e um clima de café-teatro com o artista perto do público”, diz Eliana.
O formato de café-teatro inclui serviço de bar com garçom e cardápio de tira-gostos. A capacidade do espaço é para 156 pessoas.
Eliana começou como bailarina profissional e foi também atriz. Depois, passou a atuar nos bastidores, criando projetos, o que sempre foi seu desejo. Uma de suas criações foi o Ateliê de Coreógrafos Brasileiros, há cerca de 20 anos. Ele teve também o Café Teatro do Hotel Meridien.
A produtora cultural manda um recado aos empresários baianos: “Eles devem olhar para a cultura local e para a possibilidade de patrocinar nossa cultura através de leis de incentivo. Precisamos desse apoio. E o patrocínio é um negócio, que dará visibilidade e retorno ao patrocinador”, defende Eliana.
16 e 17/9 – Armandinho, Yacoce Simões e Marco Lobo
23 e 24/9 – Targino Gondim e Quinteto Sanfônico
30/09 e 1º/10 – Andança, dupla formada por Danilo Caymmi e Claudio Nucci
14 e 15/10 – Paulinho Boca de Cantor
21 e 22/10 – Alexandre Leão e Joatan Nascimento
28 e 29/10 – Lazzo
Fonte: Agência Brasil