Em uma ação da Polícia Civil na tarde dessa quarta-feira (14), na Gamboa, em busca dos envolvidos na morte do taxista Raphael Teixeira de Oliveira, 32 anos, na Graça, policiais da 1ª Delegacia de Homicídios (DH/Atlântico) identificaram homens suspeitos, que atiraram contra a guarnição e conseguiram fugir, deixando para trás uma metralhadora e porções de maconha, crack, cocaína, balança e munições.
O material foi apreendido. A polícia não detalhou se os suspeitos pelo assassinato de Raphael já foram identificados ou se eram os mesmos que fugiram na Gamboa.
“É uma vasta apreensão, fruto de um grande trabalho de investigação da 1ª DH/ Atlântico. Seguimos nas diligências para capturar os proprietários dos materiais apreendidos”, relatou a delegada Zaira Pimentel, titular da 1ª DH.
Todo o material foi apresentado no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e passará por perícia no Departamento de Polícia Técnica (DPT).
O taxista morto a tiros nessa terça-feira (13), à noite, no bairro da Graça, em Salvador, tinha passagens pela polícia, por tráfico de drogas na capital, e atos suspeitos em Ilhéus, no sul do estado, como venda de produto roubado. No momento do homicídio, a vítima estava dentro do próprio carro, parado em uma lanchonete na entrada do Corredor da Vitória, quando dois homens, sobre uma moto, passaram pelo local e atiraram várias vezes em direção a Raphael, que morreu no local.
Ao menos três boletins de ocorrência envolvem o nome de Raphael como suspeito de delitos, segundo apuração do portal Aratu On. Em um deles, a vítima foi acusada de vender um Iphone roubado. A polícia não detalhou os antecedentes criminais do taxista.
Além de Raphael, havia duas pessoas no carro: uma também foi baleada e está internada no Hospital Geral do Estado (HGE), onde passou por cirurgia, enquanto a outra, que não precisou de atendimento, foi ouvida pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) — que investiga a autoria e a motivação do crime.
Os nomes delas não foram divulgados e, ainda segundo a PC, não há informações a respeito de seus antecedentes criminais nem a relação delas com Raphael.
Inimizades
Raphael Teixeira de Oliveira era natural de Salvador e, de acordo com a Associação Geral dos Taxistas (AGT), exercia a profissão há dois anos. Um homem que se identificou como Rogério Leite, de 56 anos, amigo de Raphael, afirmou à reportagem não ter conhecimento sobre a existência de alguma inimizade e que o rapaz sequer tinha sido vítima de outro ato de violência antes.
Raphael Teixeira de Oliveira tinha 32 anos (Foto: Reprodução) |
“Talvez tenha sido isso: porque nunca sofreu algo, não tinha medo, não tinha noção ou deixou passar despercebido”, disse. “Uma pessoa tranquila, companheira, sempre beneficiando os amigos. Uma pessoa boa mesmo”, acrescentou. O homem informou que Raphael não era casado, mas que não sabia se ele tinha filhos.
Acredita-se que o taxista estivesse num momento de descanso, já que vestia bermuda e camiseta e tinha parado para fazer um lanche. Mas o amigo, que é motorista por aplicativo e conheceu o rapaz trabalhando, não descarta a possibilidade de que ele estivesse exercendo sua função. “Taxista, qualquer lugar que parou a mão, ele aproveita e pega”, contou, alegando baixa clientela.
Para o presidente da AGT, Denis Paim, isso é pouco provável.
“O taxista [Rafael] estava de bermuda, e não é de praxe ninguém trabalhar de bermuda nem de camiseta. Então, nós supomos que tenha sido uma emboscada.”
Ainda segundo o representante da categoria, um funcionário da lanchonete onde aconteceu o crime revelou que Raphael frequentava o local semanalmente.
Nesta quarta-feira (14), colaboradores abordados pela reportagem apenas afirmaram que não estavam trabalhando no horário do ocorrido e que não tinham autorização para falar com a imprensa. A orientação dada pela gerente da loja foi procurar a comunicação institucional, que não atendeu nos números de telefone disponibilizados.
O corpo de Raphael foi enterrado nessa quarta, no cemitério Bosque da Paz, em Salvador.
Insegurança
Crimes violentos não costumam fazer parte do dia a dia de quem mora ou trabalha na região que compreende o bairro da Graça e o Corredor da Vitória, local, inclusive, que tem um dos metros quadrados mais caros de Salvador.
Para o professor Patrick Santos, de 25 anos, que mora no Corredor, a insegurança está presente em toda a cidade, mas os casos ganham maior repercussão quando são em regiões consideradas nobres. “Antigamente, eu tinha a impressão de que via viaturas da polícia circulando [na região] mais frequentemente do que em outros lugares, mas, ultimamente, eu não tenho mais visto muito isso”, afirma. “Só que é aquela questão: a cidade toda ‘tá’ violenta, mas só tem uma certa comoção quando é num bairro de pessoas que têm uma condição financeira melhor”, pondera.
A estudante Ananda Borges, de 21 anos, que mora na Graça, pensa o mesmo.
“Casos de violência como a morte do motorista evidenciam como a cidade de Salvador, de forma geral, tem sido violenta”, diz.
“Apesar de ter policiamento aqui [na Graça], à noite, a rua fica muito deserta, e o carro da polícia, que geralmente fica ali, na praça [Largo] da Graça, não se encontra”, conclui.
Apesar de considerar o crime dessa terça-feira uma situação incomum para a região, o frentista Kleberson Almeida, de 28 anos, que trabalha no posto de gasolina localizado junto à cena do crime dessa terça-feira, conta que casos de violência têm sido recorrentes. “Ultimamente, vêm acontecendo alguns casos aqui [na região] — inclusive, recentemente, teve até um assalto nesse mesmo lugar [lanchonete] e, agora, esse ocorrido [o homicídio].”
Um colega que atua durante o turno oposto ao dele foi quem lhe passou a história. “[O colega] Ele, simplesmente, me relatou que ele ‘tava’ trabalhando à noite, tirando a lixeira, e, no momento que ele escutou a zoada do tiro, ele acabou que se escondeu atrás das bombas [de gasolina] e, quando foi observar, o taxista [Raphael] já estava baleado”, detalha.
Entre os assaltos mencionados por Kleberson, está um que ocorreu na segunda-feira (12), por volta das 10h, na Graça, e deixou a gerente de uma farmácia ferida após ter sido esfaqueada na mão. O nome e o estado de saúde da vítima não foram divulgados, e o suspeito conseguiu roubar aparelhos celulares e outros pertences de funcionários, além de produtos de perfumaria e cosméticos.
Procurada, a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) informou que questões relacionadas a policiamento devem ser enviadas à PM.
Em nota, a Polícia Militar informou que “atua preventivamente no patrulhamento em vias públicas ou através de acionamento. O policiamento na região é realizado pela Companhias Independentes diuturnamente, com o emprego de guarnições motorizadas, que fazem rondas ostensivas preventivas”. Além do policiamento ordinário, diz a nota, “as companhias têm intensificado o policiamento, inclusive com operações, com vistas a coibir ações delituosas de quaisquer naturezas, contando com o reforço de ações preventivas”.
Fonte: Agência Brasil