A profissional autônoma Ana Paula Ferreira, 37 anos, chegou para votar logo no início da manhã, no Colégio Luiz Viana Filho, no bairro de Brotas. Por lá, o movimento já era intenso, mesmo após uma hora da abertura dos portões. Ana Paula não veio com santinho de candidato, nem adesivo ou qualquer referência ao partido que conquistou o seu voto. Não escolheu vestir nem verde, nem vermelho, mas na camisa azul, ela não hesitou em reforçar sua neutralidade: ‘menos opinião, mais pix’.
“Preferi não identificar nada. Assisto jornal todos os dias e vi os casos de violência que ocorreram nos últimos tempos. Vim votar para ver se isso melhora”, afirmou.
O voto é secreto, a gente sabe. Mas nas eleições de domingo (02), o medo do clima político entre partidos de esquerda e direita fez com muitos eleitores fossem às urnas dispostos a deixar em casa até a toalha estampada com a cara do candidato, que fez tanto sucesso nos camelôs da cidade antes das eleições.
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Rosângela Souza vestiu a camisa do Vitória (Foto: Paula Fróes/ CORREIO) |
A eleitora Rosângela Souza, 50 anos, foi uma dessas. Abriu mão da camisa do partido, mas não da cor vermelha. “Coloquei a camisa do Vitória e vim. Tinha que vestir vermelho hoje, mesmo com o receio por conta de tudo que está acontecendo. A importância do nosso voto agora é de mudança, recomeço, sonhar de novo e viver sem o medo que eu senti hoje”.
Na mesma escola, a médica Fernanda Araújo, 30 anos, pensou muito antes de vestir a camisa do partido e decidiu vestir a do Bahia. “Fiquei com muito receio, principalmente por conta das últimas semanas. Achei melhor evitar. Muito medo de sofrer alguma agressão física”.
A aposentada Maria Auxiliadora Araújo, 62 anos, lamentou não vestir a cor que realmente queria. “Infelizmente, vim neutra, porém, essa eleição é mais que importante. Ninguém sabe o que se passa na cabeça de quem defende a violência. Depois daqui, é ir para casa direto e ficar longe de confusão”.
Já a atriz Maria Clara de Cardozo, não vestiu vermelho, mas fez questão de deixar a cor marcar presença no cabelo. “Retoquei a pintura para vir com ele bem vermelho. O medo de ‘bolsomonion’ é enorme, a gente nunca sabe o que pode acontecer. Sensação de insegurança, incapacidade do que a gente quer fazer. Mas estou aqui exercendo o meu direito de voto e vai dar tudo certo”, ressaltou.
Voto da paz
De Brotas para o Canela, na Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia, mais um voto disfarçado. No caso do ator, Duda Woyda, 39 anos, ele levou à risca, o trecho da música de Gilberto Gil que diz: ‘anda com fé eu vou, que a fé não costuma falhar’. Vestiu branco, mas o seu tênis dizia muito sobre o candidato que escolheu votar.
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Duda Woyda foi de branco, mas o tênis já apontava em quem iria votar (Foto: Paula Fróes/ CORREIO |
“Preferi vim de branco. Uma indicação de paz, de chega. De voltar a sorrir, ser feliz. Sei bem onde eu voto e sabia quem eu ia encontrar aqui”. Antes, Duda passou a semana inteira vestindo vermelho todos os dias, sem exceção. “Na vida e nas redes sociais todo mundo sabe em quem eu voto. O tênis vermelho hoje veio só para reforçar essa mensagem”, completa.
Cidadania
No colégio Anchieta, o advogado Bruno Machado, 26, e a estudante de Medicina Júlia Machado, 21, escolheram vestir cores neutras para evitar serem associados a um candidato ou outro. “A gente veio exercer o nosso papel de cidadão, mas (o que vestiam) foi pensado com cautela e segurança. Mas o sentido de democracia é também de respeitar o outro. É legal ter dois candidatos em polos opostos. Faz bem para a democracia. Ter apenas um é que não é bom”, avaliou Bruno.
Os dois irmãos ressaltaram a existência da polarização, mas deixaram claro que também tinham escolhido um lado. “Preferimos não manifestar a nossa preferência, mas a gente tem uma”, completou Júlia.
Aos 88 anos, o profissional de relações governamentais Plínio Pimentel não precisaria mais votar – isso não é obrigatório a eleitores com mais de 70 anos. Ainda assim, ele diz que não deixa de cumprir seu dever. Faz isso em todos os pleitos.
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Aos 88 anos, Plínio não precisava mais votar, mas fez questão de ir (Foto: Marina Silva/CORREIO) |
“Essa é uma eleição muito importante para o destino do país. São dois grupos antagônicos e não podemos deixar de exercer nosso direito, na tentativa de escolher o melhor. O pessoal está nervoso, é um momento de tensão, mas não deixo de vir”.
* Com colaboração de Thais Borges
Fonte: Agência Brasil